Sobre a indecência de ser mulher
- R. M. Ferreira
- 29 de abr.
- 4 min de leitura

Com a minha nova coletânea de contos explodindo logo ali na esquina, nada mais adequado do que um dedinho de prosa sobre o principal tema dessa coletânea...
E antes de seguirmos com o bonde, pausa para o merchand. Lançamento é 08/05, viu? Já preparou batom, perfume e etc.? Pois então capricha nos etecéteras, Amora. Desejos Proibidos – contos eróticos para mulheres destemidas, está do balacobaco!
Agora sim. Voltando...
Se você tem acompanhado minhas postagens nas redes sociais, já observou que a chamada da campanha é “deliciosamente indecente”. E o trocadilho não é por acaso. A ideia é que o slogan se refira tanto aos temas e às protagonistas dos contos, quanto às suas potenciais leitoras. Ou seja, mulheres como você e eu, que já passaram da idade e do saco de tolerar gracinha misógina de macho escroto.
Uma advertência, contudo. Não se trata apenas de lembrarmos que os tempos de Amélia já se foram, porque já sabemos que a “mulher de verdade”, enaltecida pela música,[1] nada mais é do que a representação doentia de uma mulher emudecida pelo assédio masculino. O tema da prosa é o justo oposto do que se convencionou chamar de “virtude feminina”.
Puxa a cadeira, Amora, porque a prosa de hoje é sobre a Indecência.
Desde muito cedo, aprendemos que há algo de perigoso — quase proibido — no corpo feminino. Que nossos gestos, roupas, desejos e até nossos silêncios devem estar sempre sob controle. E não qualquer controle, mas o controle dos outros. Da família, da religião, dos homens. Do tal “olhar social” que nos vigia como se fôssemos vitrines ambulantes da moralidade.
É curioso (e cruel) como tudo que escapa da norma, especialmente quando parte de nós, mulheres, é chamado de indecente. Uma saia acima do joelho. Um riso mais alto. Um olhar que não baixa. Um gozo. Um conto erótico.
Acontece- porém- contudo- senão- aliás, que a indecência, Amoras, nunca esteve nas nossas atitudes. E, sim, no incômodo que elas causam ao patriarcado — a ordenação social baseada na autoridade do “pai” — e que, há séculos, tenta sequestrar nossa sexualidade, empacotar nossos desejos, domesticá-los como se fossem perigos a serem contidos, e não potências a serem vividas.
Ser decente na sociedade patriarcal, é ser apagada. É não desejar; ou desejar só o que o homem-pai permite. É não se conhecer, não se tocar, não falar sobre sexo — ou fazer de conta que ele não existe se não for para agradar a alguém. Quantas de nós não passamos anos achando que prazer era pecado? Que libido era coisa de “vagabunda”? Que mulher que se ama é “metida”? Que mulher que se mostra é “fácil”?
Das fogueiras da Inquisição ao feminicídio que dizima milhares de mulheres todos os dias, no Brasil e no mundo, enfrentamos uma luta diária e sangrenta pelo simples direito de... ser mulher.
Eu acredito fervorosamente que a literatura hot feminina, escrita por e para mulheres, é uma ferramenta poderosa e necessária nessa luta. Porque eu entendo que uma das maiores revoluções íntimas que podemos viver é assumir nossos desejos sem culpa. Sentir sem pedir desculpas. E isso inclui contar as histórias que queremos, sem censura.
A coletânea de contos eróticos Desejos Proibidos, coloca as mulheres no centro da narrativa. Não como objetos do desejo alheio, mas como autoras das suas próprias vontades. Cada conto é uma pequena revolução íntima. Mulheres que ousam fantasiar, escolher, transgredir. Que dizem “sim” porque querem, “não” porque podem, e que se colocam inteiras na experiência de sentir.
Também na escrita, há a mão feminina, é claro. Esta que vos escreve não entregaria a você, Amora, uma erótica rasa, repetindo historietas que vulgarizam o desejo feminino, conformando-o a um erotismo que eu, particularmente acho nojento. (Do tipo “Dei pro amigo do meu marido corno”, “Chupei o novinho do cinema”, “Tirei o atraso com o manobrista”, e por aí vai. Eca).
O que eu te ofereço em Desejos Proibidos é uma escrita erótica feminina — escrita por, sobre e para mulheres, que trata o desejo das protagonistas com autonomia, ruptura e coragem. Não raro, é uma erótica crua. Mas nem por isso... rasa.
Se tem uma coisa que você não vai encontrar em Desejos Proibidos, é protagonista tola. Espere por protagonistas fortes, empoderadas, que sabem e exigem o que querem. E fazem isso sem pedir licença, o que, vamo combinar, é uma delícia, né?
A minha intenção é que a leitura de Desejos Proibidos seja mais do que se envolver por tramas sensuais, mas testemunhar mulheres que rasgam o script da decência e escrevem, com o corpo e com a alma, novas formas de existir. E quer saber? Se ser “indecente” é reivindicar esse protagonismo sem medo, então que sejamos, sim, todas nós, mulheres indecentes — com gosto, com tesão, com orgulho.
Anote na agenda: 08/05/2025, a versão digital de Desejos Proibidos chega na Amazon Kindle. Prepare as calçoletas!!!!!
Beeeeeeeeijo!!!!
E até a próxima prosa.
R.M. Ferreira
[1] Ai! que saudade da Amélia (comumente chamada somente de "Amélia") é o título de uma canção composta por Mário Lago e Ataulfo Alves, lançada a primeira vez em 1942. A palavra “Amélia” foi integrada ao vocabulário no Dicionário Aurélio com o seguinte conceito: "Mulher que aceita toda sorte de privações e/ou vexames sem reclamar, por amor a seu homem”
Como sempre, uma escrita absolutamente fascinante. Que venha a coletânea Desejos Proibidos!
Amei,amei, ansiosa para ler esse conto 😍