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Beijos de sombra e sangue-Capítulo 1.

Atualizado: há 6 dias


A escritora que vê além



O tec-tec-tec ritmado da máquina de escrever era o batimento cardíaco do apartamento. Um som firme e constante ecoando contra as paredes forradas de livros, dominava o sussurro insistente do vento de outono.



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A máquina Royal, preta e imponente, tinha sido adquirida de um antiquário em Londres. Mais do que uma relíquia romântica sobre a escrivaninha de carvalho, Catariana Valente a considerava uma âncora, a extensão física da sua imaginação.


Era ali que preferia escrever. Analógica e fisicamente.


Seu editor não se importava, o que era mais do que milhas de pontos marcados na relação entre os dois. Francis entendia que certas histórias exigiam outros tipos de forja. E se havia a possibilidade de digitalizar as páginas datilografadas e convertê-las em arquivos editáveis... por que tolher a expressão criativa de uma escritora de sucesso? Não, ele dizia. Dane-se. É pra isso que pago estagiários. E, assim, recebia alegremente os manuscritos pelos correios.


Como a máquina de escrever, desdenhosa do século XXI, o refúgio de Catariana na cidade velha de Edimburgo, também era peculiar. Um contraponto acolhedor ao frio úmido, pintando o céu de um cinza dramático.


O apartamento cheirava a papel envelhecido, lareira apagada e chá de ervas esfriando na xícara. Estantes abarrotadas flanqueavam a lareira, o sofá coberto com um cobertor felpudo prometia conforto, e a grande janela de guilhotina oferecia a vista para um labirinto de telhados de ardósia escura. Pontilhados por chaminés, cuspiam fumaça para o crepúsculo que descia.


Catariana estava absorta no fluxo. Seus dedos voavam sobre as teclas arredondadas, com uma velocidade que beirava a ferocidade. E sua aparência, em tudo combinava com a dedicação frenética. Os cabelos castanhos, de fios que capturavam tons de mel sob a luz fraca, estavam presos para o alto com uma simples haste, mechas rebeldes escapando para franzir seu rosto concentrado. Enfiava-se em um moletom oversized, confortável, e os pés em meias listradas de laranja e roxo, um toque de cor insubordinado na penumbra do cômodo.


Havia uma energia calorosa nela, uma positividade teimosa que era sua essência solar e que, claramente, refletia-se na intensidade do trabalho. Seu rosto era iluminado não apenas pela luz âmbar do abajur de latão, mas por uma centelha interna... de pura criação. Era desse material que nascia a história sob seus dedos. Intensa, profunda, um turbilhão de desejo.

Devagar, percorreu com os olhos as linhas que acabara de datilografar, as palavras ainda frescas no papel branco:


Os dedos de Kaelen não eram de carne e osso, mas sombras inquietas, traçando as curvas de Lyra como um rio encontrando seu leito. “Você não me pertence”, ela sussurrou, ainda negando o desejo, ainda que seu corpo arqueasse, buscando pelo toque. “Você é meu destino”, ele respondeu, e suas presas brilharam fracamente no crepúsculo, uma promessa de dor e prazer inextricáveis.


Um arrepio, que não era totalmente desagradável, percorreu sua espinha. Catariana sentiu no âmago da alma o quanto era poderoso dar vida a um ser tão sombrio quanto sedutor. Imersa naquela ideia, não prestou atenção no silêncio absoluto em que mergulhou o apartamento, como o imóvel fosse capaz de segurar a própria respiração.


Demorou um pouco, mas finalmente, Catariana suspirou. Se soltou do transe imersivo das palavras, esticou as costas, ouvindo um estalo suave, e ergueu os braços para cima, para aliviar a tensão nos ombros. Seu olhar vagueou pela janela, para as primeiras luzes que se acendiam por trás das janelas embaçadas.


Hora de uma pausa. Hora de um chá que estivesse realmente quente, e talvez de um biscoito para acompanhar.


Quando baixou as mãos, o formigamento estranho, embora familiar, tremelicou na superfície da pele. Um zumbido sutil, quase elétrico, nas pontas dos dedos. Ela os esfregou, um no outro, um sorriso pequeno e resignado curvando a boca.


– Ah, me deixa... – resmungou, tentando se livrar da sensação.


Precisou mudar de cidade e refazer a vida, para descobrir o que era aquilo. Há muito tempo, tempo demais até, creditava a energia estática que arranhava os dedos às longas sessões de datilografia e à energia intensa que a invadia, sempre que a escrita fluía. Era uma explicação lógica, não?

Mas quando trocou Londres por Edimburgo, descobriu da forma mais doce do mundo que aquela sensação tinha um gosto bem diferente de cansaço.


Tinha gosto de... magia.



*** *** ***


O ar gelado de outubro mordeu o rosto de Catariana assim que ela saiu para a rua de paralelepípedos, puxando o capuz do moletom para se proteger. A cidade velha respirava história e mistério, cada pedra da calçada guardando um segredo de séculos.


Enquanto caminhava, seus sentidos anormalmente aguçados captavam os ecos do mundo invisível que se entrelaçava ao seu. Um cheiro doce de flores de sabugueiro, onde não havia nenhum pé; um sussurro metálico que soava como risos abafados, vindo de um beco vazio; uma sombra que se movia de forma fluida no topo de um telhado.


Quando era criança, ninguém questionava seus “amiguinhos imaginários”. Pelo contrário, seus pais estimulavam porque fazia parte do crescimento saudável. Na medida em que foi crescendo, porém, entendeu que nada do que via era fantasioso. E aprendeu sozinha que o melhor a fazer era se calar e aceitar.


Também foi em Edimburgo, que aprendeu ser aquilo o seu normal. E que o mundo, além de muito maior do que dizia a razão humana, também... não era único.

Os passos apressados a levaram para uma porta estreita, encaixada entre uma loja de tartans e um pub nebuloso. Para a maioria dos transeuntes, a placa acima da porta dizia simplesmente The Enchanted Cup – A Taça Encantada –, com letras discretas.


Mas, diferente dos fregueses comuns, Catariana enxergava. Ela via as letras cintilando em um dourado suave e a palavra “Cup” se transformando continuamente em “Caldeirão”, “Tome” e “Sonho”.

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Não era apenas a placa que conseguia ver além do visível. Trepadeiras de glória-da-manhã, que deveriam estar murchas naquela época do ano, floresciam vigorosamente nas laterais da entrada, com as pétalas emitindo uma luminescência azulada, refletindo na porta de madeira.


Catariana sorriu quando o badalo do pequeno sino de cristal tilintou e ela entrou no Café Livraria da Molly.


O interior do estabelecimento era uma inundação de sensações aconchegantes. O calor de uma lareira crepitante em um canto, a combinação marcante de café, chá, chocolate quente, livros antigos e um fundo de canela com algo indescritível. Se Molly fosse Fae, diria que era uma mistura de pó de fadas com pensamentos felizes[1]. Mas, como ela era uma bruxa, a coisa certamente vinha de outro encantamento.


Molly Abrams estava atrás do balcão, organizando uma bandeja de biscoitos de gengibre. Eles se decoravam sozinhos, com o glacê branco fluindo de um bico de confeiteiro, em padrões tão delicados quanto intrincados.


Molly parecia uma mulher de meia-idade, rechonchuda e de bochechas rosadas, com um avental florido e um sorriso que aquecia a alma. Catariana, no entanto, via o rosto jovem, não mais do que trinta anos, emoldurado por longos cabelos brancos. Em torno do corpo esguio, círculos incandescentes pulsavam uma aura suave de energia dourada. Era dessa aura que brotavam as pequenas faíscas de magia, decorando os biscoitos, mexendo uma colher de prata em uma xícara de chá, levando um romance de capa vermelha para um espaço vazio na estante do fundo.


– Querida! – a voz de Molly cantarolou. – Hummm. Que cara é essa? Saiu de uma briga?


– Algo assim, Molly – respondeu Catariana, aproximando-se do balcão e sentindo a tensão nos ombros começar a ceder.


– E quem ganhou?


– Empate. Estou travada em uma cena, que não sei resolver. Me falta informação. Qual seria a reação de um feérico de linhagem sombria, à luz solar direta? Queimadura? Desconforto? Ou... só um desdém estético?


Molly soltou uma risada calorosa, fazendo os brincos de argola balançarem.


– Ah, esses feéricos sensuais... – seus olhos piscaram, maliciosos – e deliciosamente perigosos. Já disse antes, mas não custa repetir. Cuidado com o que você invoca com tanta devoção, meu bem. Suas histórias podem acabar chamando a atenção de um deles. – Era uma piada, um conselho comum entre elas, mas Catariana sentiu um frio repentino na nuca. Molly, no entanto, já continuava, séria: – É desdém, com certeza. Eles são criaturas do crepúsculo e da lua. A luz do sol é... barulhenta para os seus sentidos. Ofensiva. Mas não letal. Agora, luz solar encantada... Bom. Isso aí já é outra história.


A campainha de cristal tilintou novamente. Zachary Olivier entrou, trazendo com ele uma lufada de ar frio e o cheiro terroso de musgo. Ele se livrou do chapéu de feltro marrom, e onde se via um homem idoso com roupas excêntricas, Catariana enxergava os dois chifres curtos e curvos, emergindo da densa cabeleira grisalha; os olhos amendoados, de um verde profundo como uma floresta tropical; as pernas terminando em patas de bode, peludas e robustas, batendo ritmadas no assoalho de tábua corrida.


– Molly, o lote de mel de abelhas-do-crepúsculo chegou? – sua voz ecoou como um rosnado suave. Mas ao ver Catariana, ele inclinou a cabeça em um cumprimento, os lábios se abrindo em um sorriso cativante. – Ah. Olá, Cat! Ainda escrevendo tormentos passionais para heroínas ousadas?


– Alguém tem que fazê-lo, Zach – ela retribuiu o sorriso.


– Chegou ainda há pouco – Molly respondeu. – Ainda vou separar os fardos. – E enquanto falava, estendia para Catariana uma caneca fumegante, onde o vapor subia em espirais perfumadas de lavanda e camomila. – Aqui está, meu bem, o que você gosta. E que bom que chegou, Zach. Eu ia justamente dizer para Cat redobrar a atenção, porque o “tráfego” noturno já está intenso. Você percebeu?


O rosto de Zach ficou sério. – E tem como não perceber? Está intenso e desesperado – ele disse. – Vejo mais e mais faes se aglomerando nos pontos de afinamento. E humanos tolos, com olhos cheios de sonhos, caindo nas promessas dos tipos mais medonhos. Prometendo paraísos... – Zach emitiu um ruído de desprezo – e entregando... bem, você sabe. – Ele fez uma pausa significativa. – É a época da caça.


Molly assentiu, seu rosto normalmente alegre sombrio. – No Samhuinn, a fronteira ficará fina como papel de seda, Cat. E quando isso acontece, coisas escorrem para os dois lados. Fique esperta. Cancele suas sessões de escrita após o anoitecer, sim?


Catariana envolveu as mãos ao redor da caneca quente, buscando seu conforto. – É por isso que a minha... “coceira mágica” está forte? Aquele formigamento nas mãos?


– Sem dúvida – confirmou Molly, com um olhar perscrutador. – A maré mágica está subindo, e você, querida, tem uma conexão direta com ela. Ainda não sei como ou porquê, mas é inegável.


Zach concordou com Molly e sentou-se ao lado de Catariana, de frente para o balcão. Enquanto ela bebia o chá e se empanturrava de biscoitos de gengibre, ouvia a conversa dos dois, aprendendo cada vez mais sobre o Samhuinn – que, naquele antigo solo celta, zona de fronteira entre o mundo humano e o mundo feérico – era bem mais do que simplesmente o “dia das bruxas”.


Descobriu coisas que jamais suspeitara. Que, por exemplo, as bruxas eram os únicos seres mágicos capazes de abrir portais entremundos e, por isso mesmo, eram as suas guardiãs. Mas, sobretudo no Samhuinn, apesar de todos os esforços para protegerem as fronteiras entre os mundos, era impossível fazê-lo por completo. Isso também explicava a presença dos faes menores na fronteira, sussurrando promessas aos humanos que sonhavam com as maravilhas de Feere, o mundo mágico dos feéricos.


Bem mais fascinante que o Inferon, o mundo dos demônios, Feere era povoado por todo tipo de criaturas mágicas, de duendes travessos a belos elfos, de silfos de asas translúcidas a sereias de luz. Mas o mundo feérico era tão belo quanto perigoso e, nele, os humanos eram escravizados. Dependendo do ângulo em que se olhasse a servidão a que eram submetidos, era preferível a morte.


Catariana ficou na Livraria o quanto pode, esticando ao máximo a sua pausa. Quando não deu mais, comprou ervas para o chá, pagou, agradeceu pela companhia dos dois e pelos ensinamentos. Estava prestes a sair, a mente voando para o romance que a aguardava, agitando-se num turbilhão de feéricos sombrios e fronteiras perigosas, quando a voz de Molly a alcançou.


– Cat... – A bruxa havia se inclinado sobre o balcão, o rosto mais sério do que Catariana jamais vira. – Lembre-se do que eu disse sobre invocar coisas. Se você pode ver... pode ser vista. Por tudo que é sagrado, evite escrever tão tarde no período do Samhuinn. – Seus olhos pareciam ver muito mais do que o físico. – Muitas vezes a imaginação é alimentada pela magia que está no ar. E isso pode abrir portas que é melhor continuarem fechadas.


– E trancadas – Zach completou, dando um fecho sinistro ao conselho.


Catariana sentiu um frio percorrer sua espinha. Diferente do frio que sentiu antes, este parecia um gelo ancestral.


– Eu... vou me lembrar – ela sussurrou, antes de empurrar a porta, disparar o sino de cristal e voltar para o crepúsculo.


Enquanto andava, o conselho de Molly ecoava na mente. Mas à medida em que caminhava de volta para casa, uma parte de si, a escritora, a sonhadora, a que sentia o formigamento nos dedos, não conseguia ver aquilo como um aviso ameaçador.


Soava mais... como um convite.


*** *** ***


A caminhada de volta foi diferente.


O alerta continuava batucando na sua cabeça, com o mesmo ritmo dos tambores tocados durante a procissão do fogo, na noite do Samhuinn. E aquele barulho de fundo, cadenciado e mágico, transformava os sons ambíguos da cidade em algo mais intencional e ameaçador.


Cada sombra nos becos se alongava demais. Cada risada abafada, escapando de um pub, parecia a zombaria de um duende. O formigamento em seus dedos, agora alimentado pelo aviso, vibrava como uma corrente de baixa voltagem, subindo pelas mãos.


O alívio a envolveu ao chegar em seu prédio, subir os degraus de pedra e entrar em seu apartamento. Reinava o cheiro da sua casa, dos seus livros, da sua vida. Onde, enfim, tinha o controle.


Catariana trancou a porta, girando a chave com um clique decisivo. O apartamento estava silencioso, banhado pela luz âmbar do abajur que ela deixara aceso. A máquina de escrever, quieta e muda, lembrava muito mais uma peça de museu inofensiva do que um canal de existência para o vampiro de sombras, que ela criara horas antes.


Deixou a sacola com as ervas para chá na mesa da cozinha e foi até a janela da sala, observar a noite que caía sobre Edimburgo. As luzes da cidade cintilavam como estrelas terrestres. O castelo, iluminado no topo da colina, impunha-se como uma silhueta solene contra o céu cor de aço. Era uma vista que ela amava, que a fazia se sentir pequena e, ao mesmo tempo, parte de algo colossal. Escrever a conectava com o universo, com os mundos que coexistiam, permitindo a ela a experiência grandiosa da criação.


Mas... precisava dar um tempo. Estava imersa demais na história e aquilo a consumia.

Com um suspiro, se afastou da janela, decidida a seguir o conselho de Molly.


– Nada de mais escrita hoje, mocinha – Catariana disse alto. – Um banho quente, um chazinho de lavanda, cama e um livro. Algo leve, viu? Algo humano.


No caminho para o banheiro, o olhar passeou pelo grande espelho de moldura antiga na parede lateral. Era uma peça pesada, com entalhes escuros e desgastados pelo tempo, comprada do mesmo antiquário londrino que lhe vendera a Royal preta.


E por uma fração de segundo, menos que um piscar de olhos... ela viu.



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Não era seu reflexo.

Era uma mancha de escuridão profunda, uma silhueta alta e masculina se movendo com uma fluência sobrenatural, passando por trás de onde ela estava parada, no reflexo do cômodo.


O coração deu um salto violento contra as costelas. Catariana se virou rápido, o instinto superando a lógica, os olhos verdes arregalados varrendo a sala atrás dela.

Nada.

O sofá vazio, a poltrona desocupada, a porta do corredor fechada. A sala estava exatamente como ela deixara. Silenciosa. Sem ninguém, além dela.


O ar, no entanto, havia mudado. Parou de se mover. Tornou-se pesado, denso, carregado de uma eletricidade estática que fez os pequenos pelos de seus braços se eriçarem. Era a sensação no ar momentos antes de uma tempestade, mas não havia trovoada no horizonte. Só a quietude opressiva que absorvia todos os sons...


Catariana ficou paralisada, a respiração presa. A luta interna foi breve, mas intensa. A lógica, a razão, a parte dela que era uma mulher moderna do século XXI, gritou: Cansaço. Sugestão. Imaginação hiperativa alimentada pelas histórias da Molly!


Forçou os pulmões a puxarem ar, um som áspero na solidão.


– É só a história tomando conta de mim – murmurou para o apartamento, sua voz soando estranhamente alta e frágil.


Ignorou o frio reptiliano que ainda lhe corria pela espinha. Ignorou o formigamento nas mãos que agora parecia um zumbido. Caminhou, com passos deliberadamente firmes, de volta a cozinha para preparar seu chá.


Mesmo assim, ao passar pela escrivaninha, seus dedos roçaram a fria superfície lateral da máquina de escrever, num gesto quase carinhoso. E uma parte dela, pequena, secreta, profundamente conectada à magia, não sentiu medo.


Aquela parte, a que dava vida a Kaelen e Lyra, a que ansiava por algo além do mundo comum... ansiava pela escuridão que se aproximava.


[1] A personagem faz uma referência a mistura que Peter Pan, personagem de James Matthew Barrie, usa para voar.




 
 
 

2 comentários

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há 7 dias
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Sua escrita nos faz acreditar, já olhar nosso espaço a volta como se algo ali estivesse escondido apenas esperando para se apresentar.

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Convidado:
03 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Uau. Se o primeiro já deixa a gente sem fôlego, imagina o resto! Maravilhoso, parabéns. Ansiosa pelo próximo capítulo!

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